O Evangelho de hoje se inicia com uma séria advertência:
“Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que
alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na
abundância de bens” (Lc 12,15)
Na realidade, Jesus usa em presente de infinitivo o verbo “exceder”. A
tradução seria: “porque na realidade a vida de alguém não consiste
em ter excesso de posses”. A vida não consiste em acumular
riquezas. E, na continuação, Jesus explica o porquê desta afirmação que
fará com que Paulo descreva a cobiça como uma forma de idolatria (cf. Cl
3,5).
No Evangelho, Jesus fala de um homem cujas terras produziram uma
colheita copiosa: “Que farei, pois não tenho onde estocar semelhante
riqueza?” Ele só pensou em si mesmo, para viver uma vida de
descanso e prazer. Como diz o apóstolo Paulo em I Cor 15,32: “comamos
e bebamos que amanhã morreremos”.
E com a finalidade que também propõe o livro do Sirácida:
“encontrei descanso; agora comerei de meus bens” (11,19), aquele
homem pensa em aumentar a capacidade de seus celeiros para ter uma vida
fácil, sem preocupações, para descansar, comer, beber e gozar – como
muitos fazem nos dias de hoje.
Uma solução mais fácil seria repartir o que não coubesse nos celeiros
com os mais necessitados, ou vender a preço mais acessível o excedente.
Seria uma maneira de ajudar a quem não tem e cumprir com o que Tobias
recomendava a seu filho: “Dá esmola de tudo que te sobrar e não
sejas avaro na esmola” (Tb 4,16).
Num caso de justiça Jesus é interpelado. Mas Jesus recusa ser juiz. A
justiça, considerada do ponto de vista humano, é falha e deixa muito a
desejar. No litígio, os homens enfrentam uma guerra que mata não os
corpos mas a amizade e o amor. Por isso Jesus dirá: “Assume uma
atitude conciliadora com o teu aniversário, enquanto estás no caminho,
para não te acontecer que teu aniversário te entregue ao juiz e o juiz
ao oficial de justiça e assim, sejas lançado na prisão” (Mt 5, 25).
Porém, “a caridade não procura o seu próprio interesse, não se
irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se
regozija com a verdade” (I Cor 13,5-6). De fato, todas as
revoluções em nome da justiça, da igualdade e da liberdade têm sido
extremamente cruentas e abundantes em mortes humanas. Muitas buscam a
desforra e a vingança. Por isso, todas as encíclicas sociais terminam
com a mesma advertência: a justiça deve ser temperada pela caridade que é
a que tem a última palavra nas relações sociais.
Talvez não tenhamos em conta que num mundo tão injusto como o romano,
de escravos e cidadãos diversamente classistas, Jesus nada disse a
respeito. Porém, a ênfase evangélica está na justiça divina para a qual
Lucas deixa a definitiva sentença, como o “Ai de vós, ricos, porque
já tendes a vossa consolação!” (Lc 6,24).
O problema da desigualdade – para não dizer péssima distribuição das
riquezas – tem como solução uma voluntária redistribuição das mesmas, de
modo que os mais ricos enriqueçam os mais pobres com as riquezas que
para eles sobram e para estes faltam. A chamada esmola
deve ser considerada como uma necessidade voluntária de distribuição das
riquezas.
Mais do que condenar os ricos, devemos pregar a pobreza voluntária,
desterrando a ambição como programa humano e oferecendo a simplicidade e
austeridade de vida como objetivo evangélico e ideal social.
Padre Bantu Mendonça
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Nossa Senhora das Vitórias te cubra de Bênçãos