Os
Bispos do Brasil, reunidos recentemente em Assembleia, mais uma vez se
debruçaram sobre o valor infinito da Palavra de Deus, desejando
transmiti-la sempre e com crescente profundidade ao povo de Deus. A
Palavra de Deus é fonte inesgotável de vida para toda a humanidade. Como
sempre faz, a Igreja quer empreender de novo, com crescente zelo, o
anúncio da Palavra, que tem seu lugar privilegiado, para animar a vida
de todos e o serviço apostólico a ela confiado. A chave que abre a porta
da Escritura é Nosso Senhor Jesus Cristo, com sua morte e ressurreição,
o mistério pascal que celebramos nos tempos que correm. Amar e conhecer
a Cristo é nosso dever, nossa honra e nossa alegria, deixando-nos
provocar por Ele!
A
presença de Jesus suscitou e suscitará sempre interrogações e muita
perplexidade. Nós o sabemos verdadeiro Deus e verdadeiro homem e podemos
encontrar, além da graça redentora que só pode chegar através daquele
que é Caminho, Verdade e Vida, a referência de valores a serem assumidos
para uma vida plenamente humana e digna. A Igreja nos convida a olhar
sempre para o Senhor, seguindo-o de perto, para fazer tudo o que disser!
Aproximemo-nos dele e da riqueza de sua personalidade. Em
Nazaré, onde Jesus fora criado, as pessoas se interrogam a seu respeito:
“De onde lhe vêm essa sabedoria?” (Mt 13, 54). Noutra ocasião, “surgiu
uma divisão entre o povo por causa dele. Alguns queriam prendê-lo, mas
ninguém lhe pôs as mãos. Os guardas então voltaram aos sumos sacerdotes e
aos fariseus, que lhes perguntaram: Por que não o trouxestes?
Responderam: Ninguém jamais falou como este homem” (Jo 7,43-46). Suas
palavras, mais doces do que o mel, atraem as pessoas, mesmo quem tem a
tarefa de prendê-lo. Tantas vezes quantas forem lidas, acolhidas e
vividas, nelas se encontra a vida eterna. Seu som se espalha e ecoa por
todo o universo.
Se buscarmos outro valor, como a beleza, aqui
está: "Tu és o mais belo entre os filhos dos homens, sobre teus lábios
difunde-se a graça (Sl 144,3)". “A Igreja lê o salmo cento e quarenta e
quatro como a representação poético-profética do relacionamento esponsal
entre Cristo e a Igreja. Reconhece Cristo como o mais belo entre os
homens; a graça sobre os lábios indica a beleza interior da sua palavra,
a glória do seu anúncio. Assim, não é apenas a beleza exterior da
aparição do Redentor a ser glorificada: nele aparece muito mais a beleza
da Verdade, a beleza do próprio Deus que nos atrai a si e ao mesmo
tempo nos causa a ferida do Amor, a santa paixão (“Eros”) que nos faz ir
ao encontro, junto e com a Igreja-Esposa, ao Amor que nos chama”
(“Beleza de Cristo”, Joseph Ratzinger/ Bento XVI).
Na festa do
Bom Pastor, celebrada pela Igreja no Quarto Domingo da Páscoa, é
possível descortinar algumas características da personalidade de Jesus
(Jo 10,1-18). O Evangelho de São João apresenta três belíssimas
parábolas, que vieram a ser consideradas como “Parábola do Bom Pastor”,
no quadro do difícil confronto de Jesus com adversários ferrenhos que o
pressionavam. De fato suas palavras “causaram nova divisão entre os
judeus” (Jo 10,19).
A imagem utilizada por Jesus é a do pastor de
ovelhas, rica de significado para o ambiente em que se encontrava, mas
ainda atual em nossos dias. Ele é a porta das ovelhas: “quem entrar por
mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem” (Cf. Jo
10,7-9). Portas abertas, clareza para expressar as coisas, nada de
complicações! Todos se impressionam com gente assim e se sentem
atraídos!
“Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo
10,15). Ele conhece cada uma das ovelhas pelo nome (Jo 10,3), é capaz de
estabelecer relacionamento pessoal, não apenas com a massa! Todos são
importantes para Ele e suas necessidades ressoam em seu coração.
“Eu
sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10,11).
Bondade e entrega de vida. Só quem é plenamente realizado e feliz pode
chegar a tais alturas, pois é aquele que veio “para que tenham vida, e a
tenham em abundância” (Cf. Jo 10,10). Jesus Cristo, acolhido e amado,
oferece tudo o que as pessoas de qualquer tempo procuram.
Jesus
olha longe, num grande horizonte aberto: “Tenho ainda outras ovelhas,
que não são deste redil; também a essas devo conduzir, e elas escutarão a
minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 15,16). Portas e
janelas abertas, os confins da terra. o universo inteiro, sem
fechamentos e exclusivismos!
Nele, Nosso Senhor Jesus Cristo,
está nossa vida e nossa missão. Hoje é o nosso tempo para conhecer sua
voz e seguir aquele que vai à nossa frente (Jo 10,4). Entretanto, sendo
limitados, parece-nos muito alto o ideal: dar a vida, conhecer pelo
nome, dar exemplo, ir à frente dos outros, abrir-se para todos, enfim,
acolher e espelhar a beleza e a bondade do Pastor! Sabendo disso, a
Igreja nos leva a pedir com confiança: “Deus eterno e todo-poderoso,
conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa
atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor”. Assim seja!
Dom Alberto Taveira CorrêaArcebispo Metropolitano de Belém
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Nossa Senhora das Vitórias te cubra de Bênçãos