terça-feira, 20 de setembro de 2011

Basílica: um pouco da sua história


De passagem pela estrada que dava acesso ao Estado do Maranhão, os viajantes oriundos de Belém enxergavam o pequeno oratório armado às margens de um igarapé. Diante da imagem protegida pela armação construída com palha no meio da mata, os belenenses paravam, tiravam o chapéu, rezavam. Começava aí, em meados de 1700, a devoção à imagem de Nossa Senhora de Nazaré, encontrada pelo agricultor e caçador Plácido José de Souza às margens do Murucutu.
Hoje, o cenário que abriga a imagem é bem diferente. No lugar do rio e da mata, uma grande rua asfaltada. Em vez de uma pequena cobertura, a construção imponente da Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré. As poucas árvores que permanecem, agora, dividem espaço com prédios. Porém, independente das mudanças construídas pelo tempo, se mantém a religiosidade dos paraenses pelo local onde teria acontecido o primeiro milagre da Virgem em solo paraense.
De um dos quartos de seu apartamento, a aposentada Adélie Oliva dirige suas orações à Santa de quem é devota. Enquadrada pela janela aberta no meio da parede, a imagem da Basílica de Nazaré adentra sua casa, se faz presente. “É especial. É uma força que nos dá”, tenta descrever.
A proximidade com o local foi conquistada em 2006, quando a italiana naturalizada brasileira passou a morar no prédio localizado na rua que fica do outro lado da Praça Santuário. Todas as noites, quando Adélie faz suas orações, se dirige à vista iluminada da igreja que abriga Nossa Senhora de Nazaré. “À noitinha me dirijo em mente e coração para lá e agradeço, peço por paz e pela conversão de todo o mundo”, revela. “Estou sempre lá”.
Mesmo sem poder ver a Basílica de casa, a comerciante Miuk Nakashima cultiva o hábito de se ajoelhar de frente para o santuário e rezar. O que vê em sua frente é a parede de um prédio vizinho, mas seus pensamentos são voltados para o lugar que abriga a Virgem de Nazaré. “Logo que desço da cama de manhã, eu me ajoelho. Fico emocionada”, demonstra.
Além de morar perto do local onde foi encontrada a imagem de Nossa Senhora, ela ainda se sente privilegiada de poder trabalhar na avenida que recebe o nome da Santa. Durante os quatro anos em que é vizinha da Basílica, ela afirma que muitas foram as graças alcançadas. “Nunca esqueci disso. Há quatro anos, quando ela passou aqui em frente, no Círio, pedi que eu conseguisse comprar uma casa perto da Basílica e, pouco tempo depois, ela intercedeu por mim”.
FILHOS
É em busca dessa intercessão que Maria de Lourdes se dirige à escadaria da Basílica Santuário todos os dias. Aos 63 anos, sem ter onde morar, passa as noites na casa de uma família no bairro do Guamá, de favor, como faz questão de destacar. Como os moradores da casa trabalham durante o dia, sai cedinho pelas ruas de Belém. Encontra aconchego na casa da Virgem de Nazaré. Volta à noite.
Com a aparência frágil, sentada com as costas seguras pela parede da igreja, ela acompanha com os olhos o andar de quem entra no santuário para pedir graças, rezar. Como todos, ela também tem pedidos a fazer. “Tenho pedido muito para ela me ajudar a encontrar os meus três filhos que estão desaparecidos”.
Mesmo que o contato com os dois filhos homens e a filha mulher tenha sido interrompido há bastante tempo, ela acredita na intercessão de Nossa Senhora de Nazaré para encontrá-los. Para isso, não vê lugar melhor do que o local onde apareceu a imagem da Virgem. “Eu sempre entro na igreja de manhã e tomo a bênção”.
A dona de casa Alzira Alves também é frequentadora assídua da Basílica. Entoando cânticos alegres em homenagem a Nossa Senhora, ela chega ao Santuário cumprimentando a todos. Se sente bem quando está sob o teto repleto da história do achado da imagem original. Cada espaço da igreja é conhecido pela dona de casa. “Desde que eu era criança, a minha mãe só me trazia aqui na Basílica. É especial”. A voz rouca e a dificuldade para andar deixam claro que a idade pesa em seu corpo, mas a busca pela paz, segundo ela, só encontrada no abrigo de Nossa Senhora, é mais forte que qualquer dor.
A devoção das pessoas que frequentam a igreja é vista com muito respeito pelo segurança da Basílica, Márcio André. Apesar de não ser católico, aprendeu que foi naquele local que a imagem foi encontrada. “Meus pais e avós sempre me diziam que ela foi encontrada aqui”, lembra. “Muita coisa acontece por aqui. A gente se impressiona com a beleza do local”.
Quem também conhece bem a história do achado da imagem de Nossa Senhora é a autônoma Lourdes Ferreira. “Ela foi encontrada pelo Plácido em um igarapé que passava ali atrás da Basílica”, explicou para os turistas que param diante de sua barraca para comprar uma lembrança. O local de trabalho, em frente à igreja, foi escolhido há 30 anos. Apesar da rotina travada há tanto tempo, o início de cada dia é sempre tomado por um sentimento único. “Quando eu chego, a primeira coisa que eu faço é entrar na Igreja”, conta. “O igarapé era aí atrás, esse foi o local que ela quis ficar porque tiravam ela daqui e ela voltava”. (Diário do Pará)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nossa Senhora das Vitórias te cubra de Bênçãos